quarta-feira, 24 de junho de 2020

És um amor demasiado saudável para a minha instabilidade

Estou mal disposta da verdade que transborda de dentro de mim e que luto com toda a força para conter. Tão fisicamente mal disposta que a única forma de tenho de o libertar é em escrita encriptada, na esperança talvez vã de que nunca ninguém a compreenda, mas ainda assim livre de ser compreendida.

Por um lado, o pensamento racional de quem reconhece o que precisa, o que dá e o que recebe. A estabilidade emocional que nunca conheci até estar contigo. A valorização, a espera, as expectativas que, mesmo uma vez defraudadas, continuaste a depositar em mim. Um amor grande demais relativamente ao que merecia (e talvez ainda mereça) receber.
Por outro lado, o medo de estar a avançar depressa demais, de ter mais olhos que barriga, de não estar completamente pronta para o que se vizinha apesar de estar ansiosa por o partilhar contigo. Como se em mim ainda houvesse pontas soltas que me impedem de estar contigo na plenitude da minha existência. Como se este pensamento vicioso que me empurra na direção de estragar tudo uma vez mais fosse mais forte do que o que me mantém controlada - por vezes parece que sim, mas nunca o é.

Sei que nunca vai ser porque, bem no fundo, preservo algum amor próprio.
Reconheço a minha instabilidade emocional e a tua capacidade de me manter saudável, com a tua inocência, a tua ingenuidade, a tua maneira feliz de ser.

Olho para ti e vejo um igual. O medo de ter perder não me aperta as entranhas porque não é uma ameaça credível. És sólida em todos os meus momentos de dúvida e nunca falhas a agarrar-me à terra. Um vou ter saudades tuas e mal posso esperar por te voltar a ver, em vez de espero que corra tudo bem entre nós apesar da dificuldade. Um espero por ti porque o que são uns anos comparado ao resto do que podemos viver juntas. Nunca tens dúvidas de que vai correr bem, nem nunca me deixas ter dúvidas.

Reconheço e valorizo a minha independência, a minha capacidade de agir e estar sozinha. No entanto, não consigo manter a calma sozinha, exagero e intensifico todo o que sinto até se tornar um problema insolucionável. Tu manténs a calma em mim, não sei como, mas o teu abraço e o teu beijo, a tua mensagem encorajadora mesmo quando só quero estar sozinha e faço por te afastar. A magia no conforto dos teus braços quando me viro para dormir. Como se naquele momento que todas as noites se repete, mesmo naquelas em que a dúvida me assombra, o meu pensamento voltasse a girar normalmente. Como se aquele momento fosse tudo o que preciso para ser feliz.

Não sou estúpida o suficiente para estragar o que sempre quis e que está encarnado em cada bocadinho de ti. No entanto, não sou racional o suficiente para o valorizar sem inseguranças.

Não me arrancas o coração do peito porque não ameaças ir-te embora. Nem quero que vás! Só quero que o meu pensamento finalmente compreenda, sem reservas, que a tua estabilidade é algo demasiado valioso para deitar fora por outros pensamentos absurdos - francamente, conversas platónicas na minha cabeça.

Sou uma pessoa melhor quando estou contigo, ainda que nada em ti seja frágil e, dessa forma, irresistível para a colecionadora de casos (quase) perdidos que sou.

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