terça-feira, 7 de junho de 2011

Adeus

Estava a ficar tarde, demasiado tarde.
Tinha-te pedido para saíres, convenceste-me a ficares.
Chamaram-te, hesitaste em ir.
Abri-te a porta, voltaste a fechar.
Continuavam a chamar-te, estava na altura de te ires embora, e foste.
Olhei-te da porta, caminhavas lentamente, como que receoso de não poderes voltar atrás. Olhaste para trás demasiadas vezes, recuaste, estendeste-me a mão.
Recusei, não me protegerias se fosse contigo, sabia-o bem.
Sabia-o apenas por instinto, fruto de um desconhecimento desconfortável, não te conhecia, não conhecia o teu verdadeiro eu porque essa não era a pessoa que eras para mim.
Antes desse dia, esquecia-me da tua existência. Foi arriscado trazer um desconhecido para a minha zona de conforto, e no entanto fi-lo.
As lágrimas caiam da minha cara a cada passo teu que aumentava a distância entre nós.
Olhava fixamente para ti. Retribuías, mas continuavas a andar.
Chamavam-te, podia ouvir o sussurrar dessa voz desagradável, espessa, vazia, falsa, mas não tão intensa quanto antes, estavas mais longe e contigo ela também.
Fechei a porta onde estava especada e dirigi-me para a janela, onde te vi, cada vez mais longe, cada vez mais pequeno.
Por um momento hesitaste, por pensares que não te via mais, por pensares que seria este o fim definitivo do que partilháramos, paraste, mas os teus olhos reticentes encontraram os meus sofredores a fitar-te novamente.
Descansaste. Estás confiante de que ainda te quero de volta.
Enganas-te, talvez e só apenas uma pequena parte, anestesiada pela dor, morta pelo tempo de saudade.
Mudou, o meu coração já não bate ao teu ritmo, o meu corpo frio já não anseia pelo calor, o meu nariz pelo teu odor, os meu ouvidos pela tua voz, mas sim pela temperatura amena, o odor, os sons que o reconfortam, o do conhecido.
Abri a janela. Pus a cabeça de fora. Acenei-te um adeus.
Desta vez, não é um convite para que voltes.

5 comentários:

  1. gosto muito deste texto !
    tens de ter calma, não posso fazer tudo de uma vez... gostava que o passado fosse diferente, mas já aceitei que não vai haver um futuro para nós. acho que só de si isto já é bom, não? :s

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  2. só me agarro ao passado porque, apesar de tudo, até tive alguns dias bastante felizes, como nunca tinha tido :/
    mas estou disposta a esquecer tudo isso :)

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